quinta-feira, 5 de abril de 2012

Geraldo Prado e Aposentadoria: O Poder Jurisdicional sob a ótica de Machado de Assis



Ontem (quarta, 04/04/12), na véspera de seu aniversário, Geraldo Prado deu-se um presente. Aposentou-se da função de Desembargador do TRJRJ.
Com uma trajetória impecável, marcada pela coragem, independência e justiça, deixou-nos, para nossa tristeza, despindo-se da toga.
Como o mundo constitui-se de justiça e injustiça, certamente, alguns -satisfeitos com a ordem social opressora, autoritária e desigual, ou outros ingênuos que acreditam em um sistema falido, perverso e seletivo - regozijam  com sua aposentadoria.  Mas para a maioria de nós, aqueles que sonham com uma sociedade mais justa, livre, fraterna e solidária, sua aposentadoria é motivo de lamento e esperança.
Lamento porque Geraldo deixa o Poder Jurisdicional de promover justiça. Esperança porque se torna mais vigoroso seu poder de inspirar os homens por sua cátedra, por seus escritos, por sua companhia em uma frente antiautoritária, em um projeto libertário e em um sonho de felicidade para todos.
Fica então o exemplo do magistrado Geraldo Prado, que remete ao conto de Machado de Assis “O Espelho” ou “Esboço de uma nova teoria sobre a alma humana”. 
O conto narra a estória de um jovem pobre, de 25 anos, que ascende ao cargo de Alferes da Guarda Nacional. Orgulho para a família, para o bairro, e, logo, todos passam a chamá-lo de Senhor Alferes. Em pouco tempo o Alferes eliminou o homem que existia nele.
Certa feita, ao ficar sozinho em uma fazenda, sem ninguém para fazer-lhe bajulações e chamá-lo de Senhor Alferes, entrou em uma solidão enorme e não via mais sua alma interior. Foi então que teve a ideia de vestir a farda de alferes e postar-se diante do espelho, quando, então, reconheceu sua alma exterior, vendo-se como Alferes.
O conto demonstra como o Poder age sobre o humano ao ponto de muitas vezes não nos reconhecermos mais sem ele. Muito se analisa o efeito do Poder sobre os outros, os oprimidos, mas Machado de Assis faz uma crítica ao Poder sob outro ângulo, ou seja, os efeitos do Poder sobre o homem que o exerce.
Geraldo Prado nunca foi o alferes do conto machadiano. Sua humanidade sempre foi maior do que o Poder que exerceu. Por isso, viverá, inspirará, ensinará, se alegrará e se reconhecerá sempre em sua alma interior, mesmo despido do Poder que nunca aniquilou sua humanidade.
Que sua alegria seja nossa alegria. Que nossa saudade seja sua motivação.
Nicolitt, 05/04/2012.
 

Um comentário:

  1. Olha, vi Geraldo Prado hoje, na GloboNews, achei absolutamente despropositado que ele, com toda a sua verve, tivesse pedido aposentadoria. Praquê????

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